Cadeia de Sobrevivência do Afogamento
06-11-2018
Prevenção;
Reconhecer o afogamento;
Fornecer flutuação;
Remover da Água;
Suporte de Vida
1. Prevenção
Apesar da ênfase no resgate e no tratamento, a prevenção é mais poderosa intervenção e a
de menor custo, podendo evitar mais de 85% dos casos de afogamento.
2. Reconheça o afogamento e peça para ligarem 112
Qualquer atitude de ajuda deve ser precedida pelo reconhecimento de que alguém se está a afogar. Ao
contrário da crença popular, o banhista em apuros não acena com a mão e tão pouco chama por ajuda.
O
banhista encontra-se tipicamente em posição vertical, com os braços estendidos lateralmente, batendo com os
mesmos na água. Indivíduos próximos da vítima podem achar que ele está apenas a brincar na água. A
vítima pode submergir e emergir sua cabeça diversas vezes, enquanto luta para se manter acima da
superfície. Como a respiração instintivamente tem prioridade, a vítima de afogamento geralmente é incapaz
de gritar por socorro. Ao reconhecer que uma vítima está a afogar-se, a prioridade inicial é dar o alarme que
um incidente esta em curso. Peça que alguém ligue 112 (Numero de Emergência Europeu) e avise o que
está a acontecer, onde é o incidente, quantas pessoas estão envolvidas e o que já fez ou pretende fazer. Só
então o socorrista deverá partir para ajudar a realizar o resgate.
3. Forneça flutuação - Evite a submersão
Fornecer flutuação é uma estratégia muito importante, mas não muito utilizada, apesar de ganhar tempo
valioso para o serviço de emergência chegar, ou para aqueles que estão ajudando na cena planearem os
esforços necessários ao resgate. A maioria das ações de resgates por leigos tendem a concentrar-se no
objetivo de conseguir retirar a vítima da água, mesmo que para isto exista um alto risco de vida do socorrista.
Dispositivos de segurança tais como bóias salva-vidas, foram propositadamente concebidos para
proporcionar flutuação. No entanto, eles nem sempre estão disponíveis na cena de um incidente de
afogamento. Portanto, improvisar na flutuação é fundamental na hora de ajudar.
É fundamental que profissionais de saúde tomem precauções para não se tornarem uma
segunda vítima na hora de ajudar, a prioridade é ajudar lançando o material de flutuação, sem entrar na água,
se possível.
4. Remover da água - só se for seguro
Após fornecer flutuação e parar o processo de submersão, retirar a vítima da água é essencial, a fim de
proporcionar um tratamento definitivo ao processo de afogamento. Várias estratégias para esta retirada
podem ser usadas. Ajudar a vítima a sair da água, apontando direções e locais mais próximos e mais seguro
para sair. Sempre que possível tentar ajudar a retirar a vítima sem entrar totalmente na água, utilizando
técnicas de salvamento, tais como, jogar algum equipamento, tipo corda, vara, ramos de arvore ou outros. Se
tudo mais falhar, o socorrista pode então considerar sua entrada na água sabendo que a entrada de uma
pessoa inexperiente na água é extremamente perigosa e não é recomendado. A fim de mitigar o risco durante
um socorro desta natureza deve-se trazer sempre um objeto de flutuação para interpor entre socorrista e
vítima e reduzir o risco ao leigo/socorrista de se afogar igualmente.
A decisão de realizar o suporte básico de vida ainda dentro da água baseia-se no nível de consciência
da vitima e no nível de experiência do socorrista.
- Vitima consciente (99.5% das ocorrências): resgatar a pessoa até a terra sem demais cuidados médicos.
- Vitima inconsciente (0.5% das ocorrências): a medida mais importante é a instituição imediata de ventilação ainda dentro da água. A ventilação ainda dentro da água proporciona à vítima uma chance 4 vezes maior de sobrevivência sem sequelas.
Os socorristas devem iniciar a respiração boca-a-boca
ainda na água.
Infelizmente, compressões cardíacas externas não podem ser realizadas de maneira
efetiva na água, logo só devem ser realizadas fora da água.
Métodos de ventilação dentro da água
- Sem equipamento - só é recomendável com dois socorristas ou com um socorrista em água rasa.
- Com equipamento - Pode ser realizado com apenas um socorrista, mas deve ter treino para tal procedimento.O material de flutuação deve ser utilizado no tórax superior, promovendo uma espontânea hiperextensão do pescoço e a abertura das vias aéreas.
Nota: Casos de ventilação dentro da água não são possíveis de serem realizados com barreira de
proteção (máscara), por impossibilidade técnica, sendo aconselhável a realização do boca-a-boca. O
risco de adquirir doenças, como SIDA nesta situação é uma realidade, embora não exista nenhum
caso descrito na literatura em todo mundo até hoje. É recomendável que todos os profissionais de
saúde sejam vacinados para hepatite B.
Considerando a baixa incidência de TRM ( Trauma Raquimedular ) nos salvamentos aquáticos e a possibilidade de desperdício de
precioso tempo para iniciar a ventilação e oxigenação, a imobilização de rotina da coluna cervical durante o
resgate aquático em vítimas de afogamento sem sinais de trauma não é recomendada.
5. Suporte de Vida Básico e Avançado
O transporte da vítima para fora da água deve ser realizado de acordo com o nível de consciência, mas
preferencialmente na posição vertical para evitar vómitos e demais complicações de vias aéreas. Em caso de
vítima exausta, confusa ou inconsciente, transporte em posição mais próxima possível da vertical mantendo-se
a cabeça acima do nível do corpo sem, contudo obstruir as vias aéreas que devem permanecer sempre que
possível abertas.
O posicionamento da vítima para o primeiro atendimento em área seca deve ser paralela à
do espelho d'água, o mais horizontal possível, deitada em decúbito dorsal, distante o suficiente da água a fim
de evitar as ondas. Se estiver consciente, coloque a vitima em decúbito dorsal a 30º. Se estiver ventilando,
porém inconsciente coloque a vítima em posição lateral de segurança (decúbito lateral sob o lado direito). As
tentativas de drenagem da água aspirada são extremamente nocivas e devem ser evitadas. A manobra de
compressão abdominal (Heimlich) nunca deve ser realizada como meio para eliminar água dos pulmões, ela
é ineficaz e gera riscos significativos de vómitos com aumento da aspiração. Durante a ressuscitação,
tentativas de drenar água ativamente, colocando a vítima com a cabeça abaixo do nível do corpo, aumentam
as chances de vómito em mais de cinco vezes, levando a um aumento de 19% na mortalidade. O vómito
ocorre em mais de 65% das vítimas que necessitam de ventilação de urgência e em 86% dos que necessitam
de respiração assistida ou RCP. Mesmo naqueles que não necessitam de intervenção após o resgate, o vómito
ocorre em 50%. A presença de vómito nas vias aéreas pode acarretar maior bronco-aspiração e obstrução,
impedindo a oxigenação alem de poder desencorajar o socorrista a realizar a respiração boca a boca. Em caso
de vómitos, vire a cabeça da vítima lateralmente e remova o vómito com o dedo indicador usando um lenço
ou aspiração e continue prestando a assistência ventilatória.
OBSERVAÇÕES SOBRE O GRAU 6 - PCR ( Paragem Cardio Respiratória )
1. DAE (Desfibrilhador Automático Externo) - não tem utilidade em casos de afogamento primário, pois a Paragem Cardio-Respiratória (PCR)
é de causa respiratória e, portanto ocorre em assistolia em quase 100% dos casos onde não há
indicação de desfibrilação. No entanto o DEA é útil em situações de praias e balneário locais de
grande ocorrência de paragem cardíaca em fibrilação ventricular (FV), por pessoas de idade em pratica
de diversas atividades e assim expostas ao risco de PCR por FV, onde seu uso pode determinar o
sucesso da ressuscitação.
2. RCP deve ser realizada no local - pois é aonde a vítima terá a maior chance de sucesso. Nos casos
do retorno da função cardíaca e respiratória acompanhe a vítima com muita atenção, durante os
primeiros 30 minutos, até a chegada da equipe médica, pois ainda não está fora de risco de uma nova
paragem cardiorrespiratória.
3. Quando vale a pena tentar a RCP em afogamento?
3.1. Todos os afogamentos em PCR com um tempo de submersão inferior a uma hora
Três fatos juntos
ou isolados explicam o maior sucesso na RCP de vitimas de afogamento
o "Reflexo de mergulho"
a continuação da troca gasosa de O2 - CO2 após a submersão, ea hipotermia.
O Centro de Recuperação de Afogados ( Brasil ) (CRA) tem registrado 13 casos de PCR com submersão maior do que 7 minutos, sendo 8 com mais de
14 minutos ressuscitados com sucesso (2003).
3.2. Todos os casos de PCR que não apresentem um ou mais dos sinais abaixo;
Rigidez cadavérica
Decomposição corporal
Presença de livores
4. Quando parar as manobras de RCP em afogados?
1º- Se houver resposta e retornar à função respiratória e os batimentos cardíacos;
2º- Em caso de exaustão dos socorristas, ou;
3º- Ao entregar a vitima a uma equipe médica.
Assim, durante a RCP, fique atento e verifique periodicamente se a vitima está ou não
responsiva, o que será importante na decisão de parar ou prosseguir as manobras. Existem casos descritos de
sucesso na reanimação de vitimas de afogamento após 2 horas de manobras e casos de recuperação sem danos no cérebro até 1 hora de submersão.. Para a equipa médica, a ressuscitação deve ser encerrada apenas
quando a vítima estiver com temperatura corporal acima de 34ºC e mantiver-se com ritmo em
assistolia. Caso contrário a ressuscitação deverá ser mantida.
Informação compilada através do manual GSE ( capitulo de afogamento )
Autores:
David Szpilman: Fundador, Ex-Presidente e atual Diretor Médico da Sociedade Brasileira de Salvamento
Aquático - SOBRASA; Médico da Defesa Civil da Cidade do Rio de Janeiro; Médico da reserva do Corpo
de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro, Grupamento de Socorro de Emergência; Membro do Conselho
Médico da Federação Internacional de Salvamento Aquático; Membro da Câmara Técnica de Medicina
Desportiva do CREMERJ, Fundador da ―International Drowning Research Alliance‖ - IDRA.
NOTA: O Texto foi adaptado para português PT